Minha pergunta para você é a seguinte: como seria sua vida sem trabalho? Se você não precisasse trabalhar, o que faria? Você ainda saberia quem você é se não tivesse nada para fazer profissionalmente?
Muitas pessoas construiram toda a sua identidade dentro da caixa do “trabalho”. Tire isso delas e elas não se sentirão confortáveis consigo mesmas. Você provavelmente checaria o celular por instinto. Talvez reorganizasse as coisas em casa. Planejaria uma escapada, se possível.
E depois?
O trabalho como refúgio
O trabalho dá estrutura. Faz você se sentir útil. Paga o aluguel e, de vez em quando, proporciona experiências. Mas também se torna um refúgio. Uma maneira socialmente aceitável de evitar fazer perguntas mais assustadoras sobre a vida.
Como: o que me dá prazer quando não tenho que trabalhar? O que eu valorizo quando estou livre de obrigações?
Se você elimina o trabalho, não ganha vida automaticamente. Você apenas ganha tempo. E tempo sem propósito pode parecer um vazio existencial. É por isso que tantas pessoas entram em pânico quando pedem demissão ou se aposentam. Elas estiveram em plena atividade por anos e, de repente, tudo está chegando ao fim.
Você não pode preencher esse vazio com passeios turísticos ou rotinas de autocuidado para sempre. Você vai se deparar com o dilema: e agora?
É nesse momento que você se encontra sem o seu trabalho. É estranho. Assustador. E até um pouco aterrorizante. Mas você pode descobrir mais sobre si mesmo na quietude.
O trabalho não define quem somos
Eu não sou contra o trabalho. O problema não é que trabalhamos. É que esquecemos que o trabalho não define quem somos.
Você pode amar seu trabalho e ainda assim saber que ele é temporário. Você pode buscar uma vida melhor e ainda construir uma identidade que não desmorone quando seu cargo muda.
Às vezes, o objetivo não é o “equilíbrio entre vida pessoal e profissional”. É simplesmente a “vida”. Uma vida que inclui trabalho e outras experiências.
O trabalho termina em algum momento. E será só você. Sem avaliações de desempenho. Sem e-mails. Só você, tentando se lembrar da sensação de alegria quando ela não é monetizada.
O desafio existencial
Meu desafio existencial para você é este: deixe o trabalho de lado por um segundo. Acolha o tédio, o desconforto, a vontade de “fazer alguma coisa”. Não se apresse em preencher esse vazio. Deixe-o se estender até que você se lembre de que costumava ser uma pessoa antes de ser um funcionário.
Esse é o verdadeiro trabalho de autoconhecimento. Ninguém te paga para isso. Mas todos precisam fazê-lo.
Quem sou eu sem o trabalho? Se você conseguir responder a essa pergunta, parabéns. Você construiu uma vida. Não apenas um currículo.
Algumas pessoas não consegue responder a essa pergunta. Mas uma boa reflexão sobre isso pode fazer maravilhas pela sua vida.
Estrutura versus significado existencial
A vida exige estrutura. Mas não confunda sobrevivência com significado existencial. Uma te mantém vivo. A outra dá sentido à vida.
A parte mais assustadora de reduzir o trabalho não é perder sua fonte de sustento. É encarar a si mesmo. Improvisar. E improvisar significa encarar o próprio silêncio. Olhar para si mesmo por inteiro no espelho.
É aí que você percebe que, na verdade, não quer apenas descanso ou lazer. Você quer construir, criar e fazer algo significativo. Mas nos seus próprios termos.
Descobrindo o que te move
Isso significa passar mais tempo consigo mesmo. E descobrir o que te faz sentir em estado de fluxo. Às vezes, pode ser cuidar do seu jardim. Às vezes, é fazer arte ruim. Seja lá o que isso signifique para você. Também pode ser simplesmente sentar na sua varanda e curtir um bom livro.
Se você se desligar do trabalho e se sentir perdido, ótimo. Isso é um sinal de que você tem trabalho a fazer. A auditoria interna. O despertar existencial.
Se você consegue ficar em um quarto silencioso, sem precisar fazer nada, e ainda assim se sentir completo, então você está vivendo a vida da maneira certa.
A responsabilidade da liberdade
Todo mundo diz que quer liberdade. Mas a maioria das pessoas entra em pânico assim que a conquista.
Liberdade é um objetivo valioso até você perceber que ela significa responsabilidade. Responsabilidade pelo seu tempo, suas escolhas e sua alegria. Não há ninguém para culpar quando você desperdiça o dia. Nenhum relatório trimestral para dizer se você está fazendo “o suficiente”.
Só você e sua consciência.
Estar longe do trabalho não se resume a jardins zen e longas caminhadas. Ou a experiências espalhadas por toda a sua agenda. Às vezes, “estar presente” parece tédio em uma tarde vazia. Às vezes, é dúvida, ou tristeza pelas partes de você que só existiam sob pressão.
Tudo bem. Você está se desintoxicando da euforia da validação.
A boa notícia é que, eventualmente, algo se transforma. O silêncio deixa de parecer um vazio e passa a ser um espaço para se sentir vivo.
Encontre-se no silêncio
Se você sentir vontade de escapar da sua própria vida, pare um minuto. Talvez aquilo de que você está fugindo não seja o tédio. É você mesmo.
Mas tudo bem. Encontre-se lá. Para encontrar respostas melhores. É por aí que você começa.
É por aí que a vida começa, logo depois que o trabalho termina, logo antes da próxima desculpa para se manter ocupado. E se você algum dia descobrir o que faria se o trabalho desaparecesse, simplesmente viva isso. Do jeito que você quiser. Como alguém que finalmente se lembrou de que nunca foi um cargo.
Você não é seu cargo
Antes de ir, lembre-se disto: você não precisa largar o emprego para se encontrar. Você só precisa parar de confundir “estar ocupado” com “estar vivo”.
O trabalho pode fazer parte da sua vida, mas não é a sua vida inteira. Você tem o direito de fazer coisas que não envolvam entregas ou prazos.