… Minha mente se esvazia. Procuro alguma peculiaridade, algum talento escondido, alguma história que valha ser contada. Não encontro nada que pareça digno de menção. Sorrio sem graça e mudo de assunto, carregando comigo a sensação familiar de que há algo fundamentalmente errado em mim — algo insosso, apagado, sem tempero.
Li recentemente uma frase que me desarmou: “Você não veio a este mundo para entreter as pessoas. Viva sua vida ao máximo como uma pessoa entediante.”
Algo em mim relaxou.
A tirania do interessante
Crescemos sob uma pressão silenciosa: a de sermos fascinantes. Ter histórias que prendam a atenção. Hobbies que impressionem. Uma personalidade que brilhe em ambientes escuros. Como se a vida fosse um palco perpétuo e nós, atores que precisam justificar o ingresso.
Eu me esgotei tentando ser vibrante. Ensaiando anedotas. Forçando entusiasmo. Cultivando peculiaridades como quem coleciona acessórios. E mesmo assim, no silêncio da noite, olhava para minha rotina — café, trabalho, livros pela metade, conversas imaginárias — e me perguntava: onde está a pessoa interessante que eu deveria ser?
A resposta que descobri é incômoda na sua simplicidade: ela nunca existiu. E não precisava existir.
O que ninguém te conta
O mundo gira tranquilamente para pessoas que não têm nada de especial.
Existe beleza — uma beleza feroz, aliás — em ser comum. Em caminhar pela vida sem carregar o peso do espetáculo. Em cuidar das partes de si que nenhuma plateia jamais vê: as manhãs lentas, os rituais bobos, os pensamentos que nunca viram palavras, os sonhos acalentados em silêncio porque não precisam ser anunciados.
Talvez o problema não seja você. Talvez seja o barulho ao redor, alto o suficiente para abafar sua delicadeza.
Porque quem decidiu, afinal, que ser inesquecível era o padrão?
A ternura do que passa despercebido
Penso nisso frequentemente: e se a vida não for um palco, mas um pequeno quarto com luz suave e carpete macio? Um espaço feito para ser habitado, não encenado. Onde você pode existir sem precisar provar nada. Sem precisar brilhar, entreter ou impressionar.
Existe uma dignidade profunda na escolha pela paz em vez da atenção. Pela rotina em vez da novidade. Pela constância em vez do caos colorido que todos esperam de nós.
Você não deve a ninguém uma vida fascinante. Não deve histórias emocionantes, risadas intermináveis ou uma personalidade que caiba bem em descrições breves. Nem sequer deve uma explicação sobre por que prefere esse plano de fundo.
O que fica
Às vezes, as vidas que parecem banais são as que se sustentam com maior honestidade.
Não estou romantizando a mediocridade ou glorificando a inércia. Estou falando de outra coisa: da permissão para existir sem precisar se apresentar. Para viver plenamente, em silêncio, com beleza — exatamente como você é.
Se alguém perguntar o que te torna interessante, talvez você nem precise responder. Talvez você apenas sorria e deixe a pergunta flutuar no ar, sem peso.
Porque no fim, o que importa não é o quanto você deslumbra os outros, mas o quanto você se permite habitar sua própria vida — tranquila, sem grandes acontecimentos e, ainda assim, profundamente sua.
E isso, curiosamente, é o suficiente.